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Cristina Almeida

Quem é Cristina Almeida

Maria Cristina do Rosário Almeida Mendes é amapaense, nasceu em Macapá, no dia 27 de maio de 1966, filha de Luiza do Rosário Almeida129 e Lourenço Tavares de Almeida,130 suas raízes vêm de famílias de negros escravizados da comunidade negra ribeirinha da Vila do Carmo do Macacoari (Almeida, 2018), município de Itaubal, e do Beco do Formigueiro/Largo dos Inocentes, no município de Macapá, lugares símbolos de resistência negra no estado do Amapá.

São famílias afro-amapaenses tradicionais que tiveram muita determinação para se afirmarem no processo de inserção na história do Amapá, ambas lutaram para vencer o racismo estrutural. A família Rosário, por falta de escrita e leitura, e a família Almeida, por ter casa comprada, foram duas das poucas famílias negras a não terem a casa remanejada do Formigueiro pela política de higienização do primeiro governador do estado do Amapá, Janari Nunes (1924) (Maciel, 2001). No entanto, tiveram de resistir após a construção das casas para os funcionários que vieram de outros estados para compor a equipe do governador.

Cristina Almeida é graduada em Administração de Empresas, em 1989, pela Faculdade Moderno, em Belém do Pará, via Sistema de Financiamento ao Estudante. Ingressou no quadro da Polícia Militar do Estado do Amapá, na primeira turma de policiais femininas, e, desde 1992, é funcionária efetiva da Assembleia Legislativa do Estado do Amapá.

Cristina Almeida, desde muito cedo, trilhou uma trajetória de vida marcada pela resistência e pela superação do racismo estrutural, por meio do engajamento nos movimentos sociais, seja como militante da União dos Negros do Amapá (UNA), desde os 12 anos de idade, seja como cofundadora e sócia efetiva do Instituto de Mulheres Negras do Amapá (2000). Desse modo, sua jornada rompe com a barreira social do negro amapaense, relegado ao contexto da subalternidade, e, com sua família, ela ousou sonhar alto ao concorrer, em 2006 (Mulher, 2002), a uma vaga no Senado Federal, pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) em disputa com uma das maiores forças políticas do país, o ex-presidente José Sarney, que alcançou expressiva votação (Efe, 2006). Mesmo perdendo o pleito, ela ganhou notoriedade para representar politicamente a força da tradição ancestral de uma população.

Com humildade e perseverança, após a derrota para a vaga do Senado, decidiu iniciar o seu itinerário no campo da política partidária, desde a vereança. Eleita para o primeiro mandato, em seguida, lançou-se para a Assembleia Legislativa, onde se encontra no seu terceiro mantado. Destaque-se que essa trajetória se efetivou sempre no mesmo partido de esquerda, no qual conseguiu levantar a bandeira política da comunidade negra amapaense por meio de projetos de leis e decretos.

Cristina Almeida tornou-se referência não só pela sua maneira de vestir-se, cuja perspectiva imagética, elegantemente, apresenta uma construção empoderada da mulher negra latino-americana, mas, sobretudo, pela sua atuação nos mandatos legislativos, nos quais desempenhou e continua desempenhando um importante papel na defesa das comunidades tradicionais negras, LGBTQIA+, mulheres e meio ambiente.

A vereadora Cristina Almeida faz história desde a sua eleição não só por se tornar a primeira mulher negra eleita para a Câmara Municipal de Macapá, mas, sobretudo, pela sua atuação legislativa, cuja marca foi o gabinete itinerante, em que as comunidades tradicionais do município, rurais e urbanas, têm a oportunidade de participar dos destinos de sua cidade, seja por meio de demandas e reclamações, seja por meio de sugestões, que continuam dando origem a inúmeros projetos de lei, petições e requerimentos.

Portanto, na jornada a vereadora e, posteriormente, deputada estadual, Cristina Almeida tem se destacado com um mandato atuante e participativo, fazendo jus à origem guerreira de seus ancestrais, que muito lutaram para garantir a sua própria sobrevivência, fosse em um contexto de escravidão, fosse em uma realidade de abandono provocada pela invisibilidade do racismo estrutural.

Na atuação de seus mandatos como vereadora, pode-se destacar (Almeida, [20–]): o Projeto de Lei Municipal nº 108/2009, que dispõe sobre as garantias para realização, desenvolvimento e preservação das manifestações culturais tradicionais das matrizes africanas e nativas no âmbito do município de Macapá e dá outras providências; a Lei Municipal nº 1.714/2009, que institui o Dia Municipal da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, a ser comemorado, anualmente, dia 25 de julho, e dá outras providências; a Lei Municipal nº 1.716/2009, que dispõe sobre a instituição do Dia Municipal Contra a Homofobia, a ser comemorado anualmente no dia 17 de maio; a Lei Municipal nº 1.720/2009, que dispõe sobre o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescente das comunidades quilombolas do município de Macapá; a Lei Municipal nº 6/2010, que dispõe sobre a instituição e introdução, no calendário cultural, da Parada do Orgulho LGBTQIA+ em Macapá.

Como deputada estadual (Amapá, [20–]), destacam-se: a Lei Estadual nº 1.959/2015, que reserva aos negros 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e de empregos públicos no Amapá; a Lei Estadual nº 12/2019, que institui o dia 2 de agosto como o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio; a Lei Estadual nº 14/2015, que dispõe sobre a prioridade de vagas nas escolas para crianças e adolescentes cujas mães encontram-se em situação de violência doméstica e/ou familiar no estado do Amapá; a criação da Frente Parlamentar de Combate ao Racismo e de Promoção da Igualdade Racial da Assembleia Legislativa do Estado Amapá.

Com uma atuação marcada pela defesa das comunidades tradicionais afro-brasileiras, pela luta contra o racismo estrutural e pela defesa dos direitos das mulheres e LGBTs, Cristina Almeida tem construído uma trajetória de luta e uma jornada atuante rumo à superação do racismo estrutural da sociedade amapaense e brasileira, fazendo jus a sua ancestralidade guerreira.

Fonte: Dicionário Bibliográfico: histórias entrelaçadas de mulheres afrodiaspóricas